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#Resenha: A Arma Escarlate

Livro: A Arma Escarlate

Autor: Renata Ventura

Editora: Novo Século

Edição / Ano: 1ª - 2012 / 2ª - 2014

Idioma: Português

Classificação: 5/5


Idá Aláàfin é um garoto comum de 13 anos que mora no Morro Dona Marta em Botafogo. Com um nome tão diferente (que ele odeia) Idá enfrenta um dia-a-dia perigoso e muitas vezes sangrento. Ávido por aprender, Idá fica revoltado com a situação das escolas na cidade pois muitos professores faltam ou simplesmente enrolam para dar aulas. Muitas vezes por questão de tiroteios, não pode nem ir para a escola. Com isso acaba se metendo em muitos problemas e ganhando desafetos como Caiçara, o braço direito do chefe do tráfico, que não se conforma com a proteção que Vip (o chefe) oferece a Idá desde que presenciou o menino recuperar uma pipa sem linha alguma. Como se tivesse sido um truque de mágica. Seu apelido desde este dia passou a ser Bruxo e inconformado com isso, Caiçara vive provocando e batendo em Idá.


Como não é de ferro, o menino chega ao seu limite e toma uma decisão: quer entrar para o tráfico para conseguir ter uma arma e matar Caiçara. Mas como nada é simples assim, o máximo que consegue é ser o menino do radinho, responsável por avisar quando a polícia chega ao morro. Não era uma tarefa difícil, mas Idá não contava com uma grande surpresa: no alto da laje da casa de seu melhor amigo, onde está realizando sua vigília, Idá recebe sua carta de admissão/convocação para a escola de bruxaria Notre Dame do Korkovado. Sem entender o que está acontecendo Idá se descuida e a polícia invade o morro. Sem saída ele resolve que aquela carta pode ser sua salvação. Corre para casa, pega o que pode, se despede da mãe e da avó (a pessoa que mais ama no mundo) e parte rumo à um novo mundo e com um nome novo, Hugo Escarlate (afinal não podia correr o risco de ser encontrado). Sem saber ao certo se é verdade ou não Idá apenas se agarra à esperança de que irá conhecer gente nova, aprender magia, voltará para salvar sua família e matar Caiçara.

"... Arcos da Lapa, nº 11...

Parece criança, Idá! Treze anos na cara e ainda acreditando em contos de fada!"

Mas o que Hugo não esperava é que sua perspectiva de vida fosse mudar tanto, que conhecer este mundo o fizesse se conhecer melhor e que ter amizades fosse algo tão precioso. Muito desconfiado, por viver em um ambiente hostil e cercado de pessoas nas quais não podia confiar, Hugo demora a se acostumar e entender como este novo mundo funciona. E ao enfrentar as situações dos dois mundos, Hugo acaba descobrindo o quão fácil é virar bandido e que escolher entre o certo e o errado não é tão simples assim, acabando muitas vezes tomando decisões equivocadas que fazem com que entre em diversas situações complicadas, comprometedoras e duvidosas. Quando desconfia que um mistério ronda sua varinha as coisas se complicam mais ainda. Por ser uma varinha especial e sem registro, ninguém entende como ele pode manuseá-la de forma tão avançada. Mais ainda, por que justamente ele?


A história do livro se passa na mesma época em que a história de Harry Potter está sendo retratada por J.K. Rowling (1997) e isto faz com que se tenha uma ideia de como todo este mundo se encaixa. Durante o livro a autora faz comparações com a escola de Hogwarts e sempre menciona o que está ocorrendo na Europa de forma que o leitor consiga associar os fatos e ter uma linha temporal a seguir. Algo importante de falar é o quanto ela deixa claro que as coisas precisam ser diferentes nas escolas do Brasil, não podendo seguir o modelo europeu, valorizando assim a cultura do país. Um exemplo deste ato que devemos destacar é a utilização das línguas indígenas para realizar os feitiços. O fato de utilizar o folclore brasileiro assim como sua fauna e flora para criar o ambiente mágico; e a história do Brasil para explicar alguns detalhes importante de como a magia surgiu e permaneceu no país, também são outros pontos que fazem com que o leitor possa se sentir como parte da história.


"A maioria dos barracos na favela Santa Marta não era servida por saneamento, coleta de lixo ou qualquer outro serviço básico. A situação de Idá, no entanto, era ainda pior, e ninguém discordava. Dizer que vivia em um "barraca" era força de expressão. Ele, sua mãe e sua avó moravam encaixotados em um contêiner de seis metros quadrados, onde a temperatura chegava a 50 graus no verão."


Desde o lançamento de Harry Potter, todos os leitores apaixonados pela saga sonham em um dia receber uma carta da Escola de Magia e Bruxaria, convocando-os para iniciarem seus estudos na área. Renata fez com que Hugo representasse cada leitor. Ela escolheu um personagem atípico de livros de literatura brasileira e através dele realizou o sonho de muitos leitores brasileiros. Enfrentando o preconceito social e com muita malandragem, o personagem mostra-se com uma personalidade forte e cheio de coragem. Retratando a realidade de uma favela sem pudores, Renata Ventura mistura com maestria o mundo mágico de Harry Potter com a difícil realidade de um jovem que mora em uma favela. Sua escrita está muito coerente com a realidade e as situações às quais o personagem é exposto também. Política e drogas também são assuntos comentados pela autora de forma delicada e sutil. O exemplar utilizado para esta resenha, foi muito bem diagramado e revisado pela editora. O livro foi lançado em 2012 e sua segunda edição em 2014.


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